Identidade para o jeans brasileiro

A procura do DNA do jeans brasileiro tem que ser contínua

O meu objetivo neste artigo é causar algumas ações de reflexão, ou seja, de como se constrói e de como se afasta da identidade de cada marca. Afinal, o vestuário constitui para o homem, tenha ele muita ou pouca consciência disso, um importante e delicado meio de comunicação com o próximo.

 Uma das questões fundamentais do vestuário humano é o aspecto estético. Até o homem mais simples realiza com o seu vestuário opções criativas, artísticas, que podem ser apenas sugeridas, que podem atingir o cúmulo do paroxismo, tornarem-se fetichistas, mas que refletem uma vontade, não só de diferenciação social, não só de exibição de um status especial, mas de verdadeiro empenho estético.

Aqui, portanto, entra a questão do gosto individual e da generalização dos gostos. A moda é um instrumento de padronização, correção e perfeição. A moda e suas relações como expressão do Eu ou a constituição do sujeito. IDENTIDADE!

O paradoxo padronização/ diferenciação é atravessado na moda por vários fatores contraditórios. A moda quer estabelecer um diálogo íntimo com o sujeito, mas concomitantemente, o poder das grandes marcas se afirma mais e mais. Grandes campanhas de marketing amparadas pela globalização e internacionalização da moda criam as supermarcas e tornam ainda mais complexas certas delimitações subjetivas.

No meu trabalho como consultora, estilista e produtora de moda busco incessantemente a identidade de cada uma das marcas. A essência de cada uma delas. Onde está o nosso D.N. A?

Buscamos a essência do nosso Eu, da criatividade, do seja você mesmo, a busca pelo nosso território em meio a um manifesto de velocidade desse nosso mundo tão evoluído, tão veloz, tão moderno, extremamente up to date? O que é a sua cara?

E aí volta a questionar: as roupas não têm apelo, ou seja, elas não estão mais chamando a nossa atenção! Existe a padronização e tudo fica banalizado! Desde as cores, as formas, os recortes, os shapes, é tudo muito igual! Perdemos a nossa identidade nesse mundo galopante de informações, aonde você, plugado, adquire mais informações e acaba se perdendo no tempo, no espaço e na criatividade.

Não tem mais começo, o criar ficou muito distante do nosso cotidiano, é sim a cópia da cópia! A partir da década de 50, a moda rompe uma certa unidade estilística e há uma pulverização de estilos e propostas, e as pessoas acreditam estar criando identidade através de seus looks. A mídia não é um lugar privilegiado e a padronização de pensamentos e comportamento é muito real.

Supermecado de estilos

Existe um sistema de padronização do pensamento, na produção do comportamento. A padronização está inserida nas pessoas. A moda contemporânea reflete isso sem sombra de dúvidas. Tanto é que quando entro num shopping center e começo a olhar as vitrines sinto na própria pele a homogeneização, a padronização. É tudo muito igual, sem ousadias. Onde está a essência da nossa identidade?

Talvez seja o mercado. Talvez a informação online; a velocidade. Considero os estilistas presos a essas tendências, a esses paradigmas, a essas verdades impostas pelos comitês setoriais, esquecendo, portanto, de acionar o botão da criatividade, buscando a identidade de cada marca, o seu carimbo pessoal e intransferível. 

Talvez andar na contramão da moda, buscando a verdadeira essência de cada um, de cada marca, nesse nosso mundo tão veloz, onde tudo é descartável, onde há o supermercado de estilos, seja uma das saídas.