Malhas sob o ritual do jeans

Também elas seguiram a tendência do vintage, expressão usada para definir o estilo que remete ao antigo, ao usado e, sobretudo, ao confortável.

Existe coisa mais gostosa que uma camiseta macia? Ou um bom vinho? Qual a relação entre coisas tão distintas? Façamos uma analogia com o vinho. Para realçar o sabor, o vinho necessita de tempo. Quanto mais antigo, mais nobre. Assim, como o sabor está para o paladar, a maciez está para a pele. Vintage traduz-se por uma peça antiga. Usada. Rara. Sobretudo confortável. Que tem toque macio. Diferentemente do vinho, o processo de envelhecimento da malha pode ser acelerado. Existem variados processos físicos e químicos. Felizmente a tecnologia nos dá essa condição.

Vintage – essa é a expressão usada para definir o estilo que remete ao antigo. Nos últimos anos, o mercado da moda tem absorvido artigos com aspecto de roupa usada. Como exemplo muito forte dessa afirmação podemos citar as peças confeccionadas em tecido denim. Os famosos jeans. Em geral, o jeans não anda só, está sempre de mãos dadas, na maioria das vezes, com a malha. Da mesma forma ela seguiu a tendência, adentrou nas indústrias de beneficiamento e acabamento têxtil – as lavanderias industriais, para, também, serem processadas deixando-as com um quê de usadas.

O segredo de tudo isso está no processo criativo, não deixando de lembrar a importância do chão-de-fábrica. Variados processos são utilizados com excelentes resultados e absorção pelo mercado. O processo de envelhecimento, chamado stone washing, tem como base a retirada parcial da cor. Consegue-se através da corrosão de cor, que pode ser feito com pedras pomes ou cinasita e, ainda, com enzimas ácidas ou neutras. A utilização de enzimas é ideal para tecidos mais leves como a malha. É feita por esgotamento numa máquina onde as peças são imersas numa substância química em temperaturas de até 60ºC por determinado tempo. O resultado é um sutil desgaste na superfície do tecido, isso em função da perda de cor, como também do atrito entre as peças. Obtém-se, assim, um toque macio com aspecto envelhecido.

Um outro caminho, ainda dentro da corrosão de cor, é o processo denominado marmorização. Consiste numa retirada mais acentuada da cor. Utilizam-se outros químicos e até pequenos materiais imersos em banhos frios. O contraste de cor é bem mais agressivo.

Uma outra opção seria tingir com pigmento. Aqui se pode usar ou não uma malha PT (pronta para tingir). Esse tipo de tingimento resulta num visual envelhecido, pois, o pigmento é uma substância insolúvel em água, não há, portanto, a “igualização de cor”, o que deixa a peça com um aspecto desbotado.

O destroyed é uma lavagem bem mais agressiva, durante a qual se aplica o processo de stone washing e leves puídos. Há quem use também pequenos furos, que caracterizam o estilo trash.

O dirty são os famosos sujinhos. Obtido pelas aplicações localizadas de jatos de corantes. Para caracterizar o falso sujo, utilizamos os tons que variam dos beges aos acastanhados. Todavia, o beneficiamento de malhas não se restringe apenas ao envelhecimento de peças. É bem mais abrangente. Existem outros processos que, também, caem no gosto e na aquisição dos consumidores.

O tie-dye, por exemplo, cujo termo vem do inglês amarrar e tingir. É um processo bem artesanal, feito peça por peça. O resultado é uma estampa quase que exclusiva em função do trabalho manual.
O beneficiamento de malhas vem agregar valor às peças de roupas e aos processos onde há trabalho manual que vem confirmar o forte apelo que ora o mundo todo quer adquirir.

* Célia Maria Santos Silva é estilista e pós-graduada em Engenharia Têxtil, professora de Tecnologia Têxtil do Curso de Estilismo em Moda da Faculdade Católica do Ceará – Marista Fortaleza

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