Designers enfrentam o desafio genderless

São necessários estudos de ergonomia e antropométricos para entender como adaptar a mesma peça a corpos com estruturas diferentes; assista também ao vídeo.

Cada vez mais presente nas passarelas, em campanhas e no grande varejo, o antigo unissex agora é genderless (sem gênero) trazendo outros desafios para os criadores de moda e designers. A construção de roupas deve endereçar a morfologia de corpos femininos e masculinos, pois não existe um corpo físico sem sexo definido. Por essa razão, a produção da peça, antes mesmo da questão do gênero ou estilo, envolve um entendimento de qual corpo ela vai atender. “Para que uma mesma peça vista corpos com estruturas diferentes são necessários estudos ergonômicos e antropométricos”, afirma Eloize Navalon, coordenadora do curso de Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi.

O atual genderless alcança um público mais jovem que o antigo unissex, com linhas streetwear e casual, por isso, o jeans e a moda esportiva adaptam-se tão bem. O unissex está mais presente em camisetas básicas ou em modelos específicos de calça, como a boyfriend. O projeto depende de qual público a marca quer atender, levando em conta faixa etária, se é moda casual ou esportiva, e o perfil da grife. “A criação não se prende à ausência de gênero, abarcando outras referências que as pessoas gostariam de encontrar naquela marca”, afirma Samanta Aparecida Araújo Pimenta, instrutora de formação profissional do Senai. De acordo com ela, o mais importante, ao criar para o segmento, é entender o que as pessoas gostariam, ou o que a marca, que fez a encomenda, espera. Não basta fazer uma modelagem super larga ou padrão. O importante é levar em conta a “vestibilidade” do jeans ou qualquer outra peça, e cada empresa deve desenvolver sua tabela, de acordo com seu público alvo, opina Samanta.

“A mulher busca roupa mais folgada pelo conforto, pela mesma razão que o homem usa roupas mais ajustadas, não quer dizer que o sexo foi suprimido nessa escolha”, diz Ângela Yaeko Yamashita, professora de modelagem do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina. Para ela, a moda sem gênero vem criando uma nova classe de público que não encontra roupas nas segmentações tradicionais, mas no Brasil a questão cultural faz com que o unissex seja menos popular do que na Europa e nos Estados Unidos. “É difícil falar em uma padronização de tamanhos, porque cada marca investe em públicos e corpos específicos”.

Para Lu Catoira, produtora de moda do Senai Cetiqt, a proposta do jeans, como peça versátil, independe de sexo e idade. “O jeans continua a vestir tribos, distinguindo grupos, e o fabricante desenvolve as modelagens e design para essa demanda”, afirma.

PRODUÇÃO EM SÉRIE
Maurício Lobo lembra que nas décadas de 60 e 70, quando as grandes marcas de jeans recém chegadas expandiam seus parques industriais, o produto tinha como apelo para sua popularização, na época, o fato de ter em suas coleções modelos unissex. “Marcas como US TOP, Staroup e Buzzy jeans apresentavam em suas etiquetas internas, além do tamanho, que neste caso era um intermediário entre o masculino e o feminino, a palavra unissex. É neste caminho que vejo no mercado algumas marcas trabalhando esta questão de tamanhos. Com uma tabela própria, entre masculino e feminino, e com a escala seguindo as mesmas regras convencionais de ampliação”, diz o coordenador de estilo, criação e desenvolvimento de marcas, também respondendo ao questionamento postado no vídeo anterior sobre o assunto (clique abaixo e assista o GBLjeans Responde sobre genderless).

Na visão dele, a moda genderless carrega a característica de oferecer estruturas inusitadas, como uma calça de moletom com pernas ajustadissimas do joelho até a boca da barra (com punho) e o gancho longo deixando uma folga no quadril. Exige desenvolver novas formas, que podem ter como referência a calça boyfriend feminina, as camisetas long-line com zíperes laterais que cobrem totalmente o quadril, ou peças híbridas que por meio de zíper promovem uma retenção de volume estratégica também representam alternativas, aponta o coordenador.

“Vejo o genderless como um grande desafio para o setor de modelagem, com técnicas de moulage inspirando as construções, e do outro lado, a indústria pede soluções ágeis para a produção em série. O setor que atende o mercado jovem já saiu na frente. Afinal, nessa fase, o corpo sofre muitas transformações e ter uma roupa transada que ajude a disfarçar alguns pontos só contribui”, conclui Lobo.