O seu, o meu, o nosso jeans

Amor ao primeiro uso

Quando foi que você começou a usar jeans? Você se lembra da sua primeira peça de jeans? Eu me lembro de ter usado muitas peças de jeans quando criança, todas absolutamente contra a minha vontade. Sentia-me incomodadíssima com a tal da saia jeans. Oras bolas, eu tinha cinco anos de idade, dá licença de eu querer usar moletom?

Mas me lembro muito bem da primeira vez que quis uma calça jeans. Eu tinha uns dez anos e, na época, fazia ginástica olímpica. A nossa equipe era bem grande e era composta por uma ala mais velha, que tinha entre 13 e 15 anos, e a ala júnior, que era a minha patotinha. Pois bem.

 

O sonho de qualquer uma que pertencia à patotinha era ser tão boa quanto as meninas mais velhas: fazer os saltos que elas faziam, dançar como elas dançavam e, claro, ser amiga dos amigos delas. E numa das aulas eu comecei a reparar que todas chegavam no ginásio com a tal da calça jeans. Resolvi que era disso que eu precisava: uma calça jeans.

– Mãe, me compra uma calça jeans?

– Mas eu já comprei várias e você nunca usa! Não vou comprar não!

 Ah mãe, eu era criança! Agora eu já sou grande, preciso de uma calça jeans!

Da categoria coisa incômoda ela passou para a categoria necessidade. Mas claro que essa calça jeans ficou encostada um tempão, porque ela definitivamente não me transformou numa das garotas mais velhas. Só que um dia eu realmente me tornei uma das tais meninas de 14 anos e, mais uma vez, comprei uma calça jeans. Saí de casa pra comprar uma calça qualquer, na verdade; acabei convencida mais uma vez a levar uma calça jeans.

 

Era minha primeira compra numa loja de roupas adultas e as vendedoras e a minha mãe, num esforço conjunto, deram conta do convencimento. Não foi tão difícil assim, porque a calça era diferente: ela tinha lycra! Que coisa não?

 

Na verdade, eu precisei ter uma calça jeans pra entender porque as pessoas são tão adeptas da tal. A praticidade, o conforto, a durabilidade, o charme do índigo desbotado. Um conjunto de características que, para o bem ou para o mal, nenhuma outra peça de roupa até o momento me trouxe.

 

Quando você olha pra trás, vê montes de modelos de jeans ao longo dos anos; uns muito diferentes, outros muito parecidos com o seu e o meu blue jeans. Aliás, descobri essa semana que o jeans nem sempre foi azul, você sabia? Pois é. Até 1890, ele era de cores como o bege e o marrom, cores das lonas usadas inicialmente na produção das calças para mineradores. A mudança para a tonalidade azul serviu como uma luva para que o jeans mais tarde assumisse a posição de vestimenta operária.

 

A cor azul, segundo estudiosos da época, aumentava a produtividade, diminuía o impulso de revolta dos trabalhadores e abaixava a temperatura corporal, fazendo com que os trabalhadores sentissem menos calor. Claro que nem todos os donos de fábrica sabiam disso, mas o fato é que o jeans continuava sendo resistente e prático, apropriado para o trabalho.

Enquanto roupa de classe operária, o jeans foi retratado e imortalizado nas telas do cinema por James Dean e Marlon Brandon. Na cena musical, o responsável foi o charmoso Elvis Presley. Esse retrato foi responsável pela popularização da calça jeans nos anos 60, e foi daí que ela virou uma necessidade de consumo tão grande para as pessoas. Conta meu pai que o jeans demorou a chegar ao Brasil e que as primeiras peças que ele viu eram semi novas, já usadas por americanos, e eram muito caras.

O jeans demorou a se tornar o tecido mais macio, mais maleável que é hoje. Contam os mais antigos que nas primeiras lavagens as calças ficavam ainda mais duras, mas para amaciá-la mais depressa as pessoas até tomar banho com as calças tomavam.

O tempo passou, algumas marcas foram, outras permaneceram, novas marcas de jeans surgiram. Hoje uma calça jeans pode ser comprada por menos de R$ 50 nos atacados do Brás e do Bom Retiro; por outro lado, podem ser encontradas calças que custam muito mais que R$ 500 em lojas de grandes estilistas e grandes marcas.

 

Quanto ao meu gosto pelas calças jeans, hoje não há nem do que duvidar: nada mais prático, mais fácil de cuidar e mais versátil do que a tal da calça jeans. A peça geradora do estilo casual absolutamente domina meu armário.

* estudante do Curso de Moda da Anhembi Morumbi, cujo depoimento foi considerado o melhor entre os trabalhos inscritos no concurso patrocinado pela lavanderia All Washed durante a II Semana do Jeans