Retalho Fashion começa a sair do papel

Prefeitura de São Paulo doou terreno para construção de galpão para separação de resíduos recolhidos pelo programa e que serão destinados à produção de fios.

Lançado há dois anos, o programa Retalho Fashion começa a sair do papel ao ganhar identidade oficial. Representantes de entidades como a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), o Sinditêxtil-SP (Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral de São Paulo) e a prefeitura de São Paulo assinaram no último dia 24 de abril um protocolo de intenção que tem como objetivo a retirada de 20 toneladas de resíduos têxteis por dia dos bairros do Bom Retiro e do Brás, na região central de São Paulo. A implantação prática do programa depende de outro termo de compromisso a ser firmado até 15 de maio. O projeto pretende organizar o descarte e a coleta deste tipo de resíduo para que os retalhos possam ser vendidos a indústrias recicladoras. A intenção é os restos de tecidos serem coletados e transformados em fios por catadores que vão trabalhar em um galpão a ser construído em terreno cedido pela Prefeitura, localizado entre os dois bairros, com 13 mil metros quadrados de área.

“Depois de várias reuniões das entidades da cadeia têxtil com diversas gestões de prefeituras, o projeto teve sua viabilidade aprovada no ano passado, ganhou uma central de triagem e definições jurídicas”, destaca Silvio Napoli, diretor de tecnologia da Abit. Toda a cadeia têxtil, desde a fiação, tecelagem, malharia até o beneficiamento, produzem resíduos. A parte industrial tem destinação regulamentada por normas federais, mas o retalho da confecção é simplesmente jogado no lixo. “É importante salientar que as confecções são livres em aderir ou não ao programa. É uma opção de descarte melhor do que não dar nenhuma destinação ou colocar o lixo na rua”, diz Napoli.

As empresas que participarem do projeto devem fazer a triagem do material, isto é, separar o tecido do não tecido que será retirado da porta das confecções sem custo. Na central de triagem, o retalho ou matéria prima de origem têxtil será separado por tipo, prensado e repassado aos recicladores de fios. De acordo com Napoli, o programa não tem como objetivo recolher roupas usadas ou com defeito, apenas retalhos. As confecções interessadas em participar serão informadas como proceder pelas entidades lojistas dos bairros do Brás e Retiro e também quando começa efetivamente a coleta. Antes a prefeitura fará uma consulta pública para informar a população sobre o programa.

Segundo Sinditêxtil-SP, em 2011, o Brasil importou 13,7 mil toneladas de trapos de tecidos (o que equivale a cerca de US$ 13 milhões) para abastecer empresas que compram e reciclam este material na fabricação de novos fios. Atualmente, de acordo com a entidade, a maioria dos comerciantes da região central de São Paulo descarta o que sobra de sua produção têxtil na frente de seu estabelecimento, o que faz com que os retalhos não sejam reaproveitados e acabem em aterros sanitários.