Private label como opção

Deixar de produzir para terceirizar o processo completo não é decisão das mais fáceis, mas há casos de parcerias duradouras

 Em busca de custos menores, confecções brasileiras se voltam para o modelo de private label (PL), pelo qual a empresa contrata um fornecedor que cuida desde a recepção do tecido até a entrega do produto pronto e acabado, cobrando por peça produzida. Com a terceirização da parte operacional, a empresa passa a se dedicar à gestão da marca, ao desenvolvimento dos modelos e controle de qualidade. Esse é o apelo. A transição é, no entanto, um processo complexo porque exige por parte da confecção ajustes na forma de operar, que vão além do corte de pessoal, e que só funciona mediante uma relação de confiança entre os parceiros de negócios.

Na área de jeans, o sistema de PL começou no Brasil no final da década de 70. A primeira parceria juntou Zoomp e Comask, que continuam a trabalhar num casamento prestes a completar 30 anos. Em 1978, a Zoomp fazia quatro anos que colocara o raio amarelo para eletrizar o mercado brasileiro de jeans, enquanto a Comask acumulava experiência como facção de marcas da São Paulo Alpargatas.

 

Nessas três décadas, o mercado de PL ganhou consistência no Brasil. Mas nunca foi um segmento de massa. Atualmente, a Comask, a pioneira, produz para cerca de 20 marcas. Outras empresas prestam serviços semelhantes, como a Staroup, a Serglez, a Scozy e a Equus.

 

Quanto custa

A adesão ao regime de PL implica a transformação da empresa de confecção à gestora de marca. É um novo modelo de negócios. “Apesar de ser um processo de substituição, durante certo tempo é preciso manter as duas operações – a própria e a terceirizada – funcionando paralelamente até completar a transição”, explica Sérgio Glez, da Serglez que, há três anos, atua com PL. Nesse período, conquistou seis clientes – a maioria da área de surfwear – e se prepara para incorporar mais um em 2007. PL representa de 30% a 35%da receita composta por serviços de acabamento, lavanderia e confecção. Além de duas marcas próprias – a masculina Serglez e a feminina, Guiness.

 

“Leva um ano para incluir um novo cliente, porque é um período de adaptação para ambos os lados. Não posso colocar mais um cliente e não atendê-lo bem porque eu posso quebrar a empresa dele”, reconhece Glez. Por isso, a recomendação é começar com pequenas quantidades, de modo que as empresas possam avaliar a forma de operar da outra, as áreas mais sensíveis do processo, e até aspectos comportamentais de como o executivo que está à frente da confecção reage ao fato de que a operação não fica mais dentro de casa.

Repassar a produção de ponta a ponta a terceiros não é uma decisão fácil, até porque voltar atrás custa muito caro. Implica saber quanto custa exatamente produzir uma peça internamente. Só assim o executivo pode avaliar quão rentável ou não seria a operação em regime de PL. “Eu não sou mais barato do que o método tradicional de trabalhar. Eu sou simplesmente mais claro. O custo é por peça”, observa o executivo da Serglez, que recomenda às confecções anualizar as contas. Entre as vantagens do modelo de PL, Fábio Américo Leme dos Santos, diretor da Comask, destaca a possibilidade para as confecções de criar fluxo de caixa para investir na própria marca.

Também exige planejamento de volume de produção por parte da confecção. Disso depende a escolha se vai trabalhar com um fornecedor de PL ou mais. A Equus, por exemplo, tende em 2007 a manter os mesmos dez clientes atendidos este ano devido à capacidade de produção da empresa, explica Priscilla Tesser, da área de marketing da empresa. Segundo a executiva, a Equus produz 10 mil peças por mês para PL, sendo o pedido mínimo de 300 peças.fotos: Comask (no alto da pág)
Serglez (no meio da pág) 

Especializada em bottoms (calças, saias e Bermudas), a Scozy produz na planta em Siqueira Campos (PR) cerca de 100 mil peças por mês.