Setor vive momento de incerteza

Além dos indicadores econômicos negativos, Brasil pode sentir também a pressão provocada pela instabilidade internacional.

O imprevisível cenário das eleições na Argentina, no final de outubro, e a guerra comercial entre Estados Unidos e China podem respingar sobre o Brasil como um todo, e no setor têxtil e de vestuário em particular. “Sim, incerteza é o que teremos até o final do ano”, reconhece Renato Jardim, superintendente de políticas industriais e econômicas da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção). A expectativa é o último trimestre do ano ficar aquecido para as vendas no setor, que geralmente ocorre com Black Friday e Natal, e pouco menos com o Dia das Crianças, além de em 2019 ter mais duas ações a serem avaliadas.

Com o lançamento da Semana do Brasil de 6 a 15 de setembro, apoiada pela Abit, Jardim afirma que a expectativa é que traga melhora. Mas não dá para saber a abrangência da iniciativa e o impacto que terá no consumo. A liberação dos recursos de FGTS e PIS também é uma incógnita. No governo Temer, o resultado foi positivo. “Desta vez, porém, a liberação será mais diluída e em montantes menores. É difícil saber se os recursos vão para o consumo”, avalia o superintendente da Abit. Os valores também são menores, porém, mais duradouros.

Outra questão de desfecho imprevisível é a flutuação do dólar que na semana passada ultrapassou a casa dos R$ 4. Se o dólar custando mais é bom para a exportação, representa ao mesmo tempo pressão adicional sobre os custos dolarizados dos insumos industriais.

INSTABILIDADE EXTERNA

As eleições na Argentina preocupam porque o país vizinho é o principal destino das exportações brasileiras do setor. E as compras argentinas só têm caído desde 2011, mostra o levantamento realizado pela Abit. Tomando julho como final de um período de 12 meses, O Brasil exportou para a Argentina US$ 430 milhões em julho de 2011 e US$ 194 milhões em julho de 2019. Essa redução explica a queda no volume exportado pelo país de bens do setor nesse período, ressalta Jardim.

Com a inesperada vitória da oposição na prévia realizada em agosto, e as tentativas do governo em reverter o resultado, tornam difícil fazer projeções.

A guerra comercial deflagrada pelos Estados Unidos contra a China vai se agravando com respostas duras de ambos os lados. A China é o maior fornecedor dos Estados Unidos. De US$ 111 bilhões importados pelos americanos em 2018, US$ 40,75 bilhões foram enviados pela China, comenta Jardim. A participação brasileira nesse bolo não chega a 0,10% (é de 0,08%). A menor participação dos produtos chineses na economia em tese poderia representar uma oportunidade de negócios para o Brasil. Mas não é assim que o superintendente enxerga. “Vislumbro mais ameaça do que oportunidade”, diz. Na avaliação dele, a tendência é a China direcionar o saldo de produção para outros países consumidores, como o Brasil.