Faturamento da indústria têxtil recua em 2014

Segundo o balanço realizado pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil de Confecção) de sete indicadores, apenas a importação registrou índice positivo.

O setor têxtil e de confecção acompanhou o fraco desempenho de toda a indústria no país e recuou em praticamente todos os indicadores em 2014, segundo dados da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil de Confecção), que apresentou o balanço nessa quinta-feira, 22 de janeiro. Dos sete indicadores, seis– emprego, produção de vestuário, têxtil, exportação, investimento e faturamento – tiveram queda, exceto a importação que cresceu 4,8%, comparado a 2013. O faturamento da indústria alcançou US$ 5,4 bilhões, com queda de 4,8%, em dólares, e crescimento de 3,6% em reais (R$ 130,2 bilhões).

Em 2014, o setor perdeu 20 mil postos de trabalho, fechando em 1,6 milhão de pessoas empregadas. A produção de vestuário no período caiu 2% (fechando em 6 bilhões de peças), a produção têxtil caiu 5% e a exportação baixou 6,7%, representando US$ 7,8 bilhões. A maior queda foi em investimento, que totalizou US$ 1,1 bilhão, 30% menor que em 2013. As exportações caíram 6,7%, somando US$ 1,17 bilhão.

De acordo com o presidente da Abit, Rafael Cervone, o resultado não se distanciou do desempenho pífio do restante da indústria de transformação que, com exceção de seis setores (cosméticos, bebidas, informática e produtos eletrônicos, produtos farmacêuticos, derivados de petróleo e manutenção de equipamentos), registrou queda no faturamento. A fabricação de produtos têxteis ficou em sexto lugar entre as indústrias que mais caíram (-5,9%). Confecção e artigos de vestuário e acessórios teve queda menor, ficando em décimo quarto lugar entre os setores produtivos (-2,7%). A título de curiosidade, a indústria mais penalizada em 2014 foram os fabricantes de automóveis que tiveram queda de 17,3% no faturamento.

A balança comercial, cujo déficit foi de US$ 5,9 bilhões, segue favorável para o mercado chinês: em 2002, a China representava 9,1% nas exportações de produtos de vestuário para o Brasil, passou para 36,6% em 2008, e no ano passado saltou para 53,8%. “É importante lembrar que o Brasil detém o know how de todos os elos da cadeia, da fibra ao varejo. Após a crise mundial, os países desenvolvidos estão se reindustrializando para recomporem o PIB”, ressalta Cervone.

Desde 2003 a produção industrial e a indústria de confecção não acompanham o crescimento das vendas de varejo. Enquanto este último consumiu 155,3 milhões de toneladas de produtos no ano passado, as confecções ofertaram 89,7 milhões de toneladas e a indústria, 79,06 milhões de toneladas. O Brasil também segue menos competitivo em 2014 com o salário real aumentando mais que a produtividade. O índice é calculado levando-se em conta o dólar e o número de trabalhadores empregados. “A indústria já representou 37% do PIB brasileiro, neste ano representou 12,3% e a tendência é cair para 8% nos próximos anos”, diz Cervone.

PERSPECTIVAS
Em 2015, o cenário continua pessimista, com crescimento próximos a zero. Com um aumento do PIB de apenas 0,5%, a Abit projeta que a produção das confecções cresça 0,7%, a têxtil 0,3% e o varejo de vestuário 0,4%, alcançando faturamento de US$ 51,5 bilhões, queda de 7% comparado a 2014. A indústria continuará a perder postos de trabalho (pelo menos 4 mil) e seguirá com déficit de US$ 6,13 bilhões na balança comercial. “As importações vão continuar crescendo, mas estamos otimistas com as exportações que devem crescer 3,6%, a partir de novos acordos comerciais com blocos fora do Mercosul como Estados Unidos, União Europeia e México”, afirma Cervone. Para incentivar as empresas a Abit conta com o programa Texbrasil que abriu oportunidades em países do Oriente Médio e Austrália. A entidade também estuda nichos de mercado em cidades norte-americanas menores como destino das exportações brasileiras. “A Argentina deixou de consumir 40% das nossas exportações substituindo o Brasil pela China. Temos enorme preocupação em redefinirmos as bases do Mercosul e estender os acordos comerciais com outros blocos”, diz o executivo.

Uma das maiores reinvindicações da indústria é a melhora no ambiente de negócios para incentivar o emprego e a inovação. “São criadas por dia 776 normas, impossível de administrar. Tudo isso acaba onerando o elo mais frágil da cadeia que são as confecções”, diz Cervone. A Abit tem reuniões marcadas com diversos ministros do novo governo para apresentar o regime tributário diferenciado para as confecções que prevê desonerar a área que hoje paga até 18,1% do faturamento em impostos, para 5% e sem limite de faturamento. Outra iniciativa visa a integração da cadeia têxtil que hoje é desagregada, composta por pequenas e médias confecções, sem flexibilidade de produção e de aquisição de mão de obra para acompanhar os altos e baixos da demanda das grandes redes de varejo que acabam optando pela importação.